Antonio Abrahão Caram nasceu "no lugar denominado Christiano - Estrada de Ferro Central do Brasil", então distrito de Casa Grande, município de Lagoa Dourada, comarca de Conselheiro Lafaiete[1], estado de Minas Gerais. A localidade seria posteriormente emancipada como município de Cristiano Otoni pela Lei Estadual nº. 2764, de 30 de dezembro de 1962.[2]
Foi um dos pioneiros da atividade sindical em Minas Gerais, quando a antiga União dos Empregados do Comércio de Belo Horizonte, da qual era Presidente, recebeu do Ministro Joaquim Pedro Salgado Filho, a primeira carta sindical expedida para Minas Gerais.[3] Como comerciário participou de inúmeras campanhas trabalhistas, dentre elas a que reivindicou o dia de oito horas de trabalho e a criação da Caixa dos Empregados do Comércio, de que resultou a criação do Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários – IAPC.[4]
Foi Juiz Vogal dos empregados em uma das primeiras Juntas de Conciliação e Julgamento, quando da criação da Justiça do Trabalho, que funcionava apenas no âmbito administrativo e cujas funções eram gratuitas e consideradas serviço relevante.[5]
Formou na antiga Frente Única Municipal e participou da fundação da Aliança Trabalhista de Minas Gerais, que se transformou, posteriormente, na seção estadual do Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, fundado pelo ex-presidente do Brasil Getúlio Vargas.[6]
Desligou-se do PTB para participar da fundação do Partido Social Democrático – PSD, a convite de Juscelino Kubitschek, organizando, em seguida, o diretório municipal do PSD em Belo Horizonte, do qual foi secretário geral por muitos anos. Exerceu a presidência do PSD estadual quando Juscelino se afastou para assumir o Governo do Estado, em 1951. Em 1959, foi eleito presidente do PSD municipal, cargo que ocupou até 1964.[7]
Em 1946, quando o Presidente Eurico Gaspar Dutra criou o órgão de controle de preços, foi nomeado membro da Comissão Municipal de Abastecimento e Preços, cargo do qual se exonerou quando da promulgação da Constituição Federal.[8]
Exerceu a Presidência da Companhia de Armazéns Gerais de Minas Gerais[9], de 1952 a 1954.
Em 1954, fez concurso para provimento de cartório e, aprovado, foi nomeado titular do Cartório do 4º Ofício do Registro de Imóveis da Comarca de Belo Horizonte.[10]
Atividades no desporto
Em 1932, fundou o clube amadorista dos empregados do comércio, chamado “U.E.C. Esporte Clube”.[11] Na mesma época, por designação do então presidente da Federação Mineira de Futebol – FMF, fundou o Departamento de Futebol Amador – DFA.[12]
Na FMF, foi diretor do Departamento do Interior e, posteriormente, do Departamento de Futebol Amador.[13] Alcançou a posição de Vice-Presidente da FMF e também membro de seu Conselho Superior.[14]
Eleito Presidente da FMF em 1952, “pode ali demonstrar sua aptidão de administrador, procurando conciliar tendências várias e encontrar soluções harmoniosas para os problemas em exame”.[15] Durante sua administração como Presidente da FMF, Antonio Abrahão Caram organizou e aparelhou a entidade, criando, além disto, o fundo para aquisição da sede própria.[16]
Defendeu a renovação dos quadros do desporto nacional e lutou, a princípio sozinho, contra os grupos então dominantes na Confederação Brasileira de Desportos – CBD (atual Confederação Brasileira de Futebol – CBF). Através do trabalho de Antonio Abrahão Caram, sagrou-se vitoriosa a tese que finalmente impõs a marcação e realização de eleições para diretoria da CBD, órgão máximo do desporto brasileiro.[17]
Foi também uma proposta de Antonio Abrahão Caram que levou à iniciativa de alteração no sistema de disputa do Campeonato Brasileiro de Futebol, quebrando a hegemonia do Rio e São Paulo na CBD, e possibilitando a Minas Gerais obter melhores resultados técnicos e financeiros, compatíveis com sua condição de terceira força futebolística no país.[18]
Em 1951, foi nomeado pelo Governador Juscelino Kubitschek, membro da Diretoria de Esportes de Minas Gerais, dando ao órgão movimento de Secretaria de Estado, tal o vulto de empreendimentos[19] no interior do Estado de Minas Gerais, envolvendo a construção de dezenas de praças de esportes, umas das metas do governo de Juscelino Kubitschek. Ainda como membro da Diretoria de Esportes de Minas Gerais, idealizou e fundou a Escola de Educação Física[20], depois absorvida pela Universidade de Minas Gerais, hoje Universidade Federal de Minas Gerais.
Ainda em 1951, foi incumbido de organizar o Conselho Regional de Desportos (“CRD”). Como Presidente do CRD, deu-lhe organização e aparelhamento.[21]
Entre 30 de agosto de 1958 a 11 de dezembro de 1960, Abrahão Caram foi presidente do América Futebol Clube (Minas Gerais)[22] numa administração descrita por seus contemporâneos como “desapaixonada e equilibrada” [23], buscando “superar questões internas, que se avolumavam sempre em decorrência de dificuldades de natureza econômico-financeiras”[24]. Foi benemérito de inúmeras associações amadoristas e de categorias profissionais no estado de Minas Gerais[25], tendo sido agraciado, em 1960, pelo Governo Federal Brasileiro, com a Grande Medalha de Ouro do Mérito Desportivo.[26]
Foi um dos maiores incentivadores da construção do Estádio Minas Gerais (hoje Estádio Governador Magalhães Pinto ou Mineirão) após combater e demonstrar a impraticabilidade de um projeto que visava construir outro, às margens da então BR-3 (rodovia ligando Belo Horizonte ao Rio de Janeiro).[27] Colaborou na elaboração do projeto do atual Mineirão até seu envio à Assembleia Legislativa de Minas Gerais.[28]
Abrahão Caram esteve entre os fundadores e foi presidente[29] da Associação de Pais e Mestres do Colégio Marista Dom Silvério, em Belo Horizonte, uma das primeiras entidades do gênero em Minas Gerais. Também integrou o Grupo de Trabalho criado pelo Governador José de Magalhães Pinto para estudar e propor solução para o problema da navegação aérea em Minas Gerais.[30]
Participou de inúmeras iniciativas de importância, à época, para o esporte mineiro, dentre elas a construção da sede social do Cruzeiro Esporte Clube no Barro Preto[31], a instalação das primeiras traves redondas[32] em Minas Gerais, no antigo Estádio Otacílio Negrão de Lima, do América Futebol Clube, e o pioneiro trabalho de iluminação do Estádio Raimundo Sampaio (Estádio Independência) para partidas noturnas.[33]
Filho de José Abrahão Caram e Sophia Karuz Abrahão Caram, ambos libaneses, foi casado com Nassum Gazire Caram, com quem teve dois filhos: Antonio Abrahão Caram Filho, advogado e administrador, e Maria José Abrahão Caram.
Homenagem em logradouro
Conforme Projeto de Lei proposto à Câmara Municipal de Belo Horizonte em 27 de janeiro de 1966 pelos vereadores José Greco, Abdo Meni, Nilson Gontijo Santos e Antônio F. Dutra (sancionada pelo prefeito Oswaldo Pierucetti em 27 de abril do mesmo ano), foi dado o nome[34] de Avenida Antônio Abrahão Caram à via pública que conecta a Avenida Presidente Antônio Carlos ao Estádio Minas Gerais (hoje Estádio Governador Magalhães Pinto ou Mineirão) na Pampulha em Belo Horizonte.
Em discurso proferido durante as solenidades de inauguração da Av. Antônio Abrahão Caram, em 7 de setembro de 1969, o então prefeito Dr. Luiz Gonzaga de Souza Lima destacou Antônio Abrahão Caram como sendo um dos “mais ardorosos defensores da causa dos esportes e dos interesses da comunidade metropolitana”[35] de Belo Horizonte.
O perfil e as realizações de Antonio Abrahão Caram foram destacados em segmento do programa “BH Total” transmitido em 19 de maio de 2010 pela TV Balcão de Belo Horizonte.[36]
[1] Conforme assento em Certidão de Casamento emitida pelo Primeiro Subdistrito - Registro Civil das Pessoas Naturais - Belo Horizonte, MG.
[2] IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – História do município de Cristiano Otoni – MG; disponível em:https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/cristiano-otoni/historico; consultado em 12 de fevereiro de 2023
[3] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.1 – § 4°.
[4] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.1 – § 4°.
[5] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.2 – § 1°.
[6] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.2 – § 2°.
[7] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.2 – § 2°.
[8] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.2 – § 3°.
[9] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.3 – § 8°.
[10] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.4 – § 8°.
[11] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.2 – § 4°.
[12] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.2 – § 5°.
[13] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.2 – § 6°.
[14] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.2 – § 7°.
[15] Prefeitura de Belo Horizonte - discurso do prefeito Luiz Gonzaga de Souza Lima proferido em 7 de setembro de 1966, durante inauguração daAv. Antônio Abrahão Caram – pp.1 – § 3°.
[16] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.3 – § 1°.
[17] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.3 – § 2°.
[18] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.3 – § 3°.
[19] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.2 – § 7°.
[20] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.2 – § 8°.
[21] Diretoria de Esportes de Minas Gerais – memorando de 9 de dezembro de 1963, em que o Sr. Antônio Abrahão Caram assina como Presidente do Conselho e solicita mobilização de recursos humanos diretamente ao Governador do Estado de Minas Gerais, Sr. José de Magalhães Pinto
[22] PAIVA, Carlos (2012) - Enciclopédia do América MG – Alicerce Editora Gráfica – pp. 102
[23] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.3 – § 4°.
[24] Prefeitura de Belo Horizonte - discurso do prefeito Luiz Gonzaga de Souza Lima proferido em 7 de setembro de 1966, durante inauguração daAv. Antônio Abrahão Caram – pp.2 – § 1°.
[25] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.4 – § 2°.
[26] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.3 – § 5°.
[27] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.3 – § 6°.
[28] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.3 – § 6°.
[29] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.3 – § 9°.
[30] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.4 – § 1°.
[31] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.3 – § 7°.
[32] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.3 – § 7°.
[33] Câmara Municipal de Belo Horizonte - Projeto de Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – pp.3 – § 7°.
[34] Lei Municipal n°. 1241 de 27 de abril de 1966 – Artigo 1°.
[35] Prefeitura de Belo Horizonte – discurso do prefeito Luiz Gonzaga de Souza Lima proferido em 7 de setembro de 1966, durante inauguração daAvenida Antônio Abrahão Caram – pp.1 – § 2°.
[36] Disponível em: https://youtu.be/g-cG5QybXFk ; consultado em 08 de gosto de 2024.
.